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Dia das Mulheres: Paridade e Contribuições Femininas na Pesquisa e Educação

Por Virgínia Magrin | Publicado: Sexta, 08 de Março de 2024, 08h30 | Última atualização em Sexta, 08 de Março de 2024, 11h39

Enquanto o mundo continua a buscar equidade de gênero em diversos setores, a educação e a pesquisa não estão imunes a essas preocupações. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a representação feminina na pesquisa global é, em média, de 33,3%. Essa disparidade é um reflexo das barreiras enfrentadas pelas mulheres em muitos contextos acadêmicos.

No entanto, ao olharmos para a Universidade Federal do Tocantins (UFT), nos deparamos com uma realidade diferente e inspiradora. Aqui, a paridade de gênero não é apenas uma aspiração distante, mas sim uma conquista tangível. Dados levantados junto à Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propesq) e à Pró-Reitoria de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas (Progedep) revelam que a UFT apresenta uma distribuição equitativa entre homens e mulheres em papéis de destaque na pesquisa e na educação.

No ciclo 2023/2024, por exemplo, a Propesq registra que 74 mulheres atuam como orientadoras de iniciação científica na graduação, enquanto 69 homens desempenham a mesma função. Esses números refletem não apenas uma presença significativa, mas também um engajamento ativo das mulheres na formação acadêmica e no estímulo à pesquisa desde os estágios iniciais da carreira dos estudantes. Além disso, dados de 2020 revelam que a UFT mantém uma proporção equilibrada entre seus docentes, tanto na graduação quanto na pós-graduação. São 526 mulheres e 563 homens ocupando cargos docentes.

Nesta matéria especial de comemoração ao Dia das Mulheres, destacaremos duas professoras e pesquisadoras da UFT, cujas trajetórias e contribuições inspiram não apenas dentro da universidade, mas também na comunidade científica e na sociedade em geral.

Mariana Borges (doutoranda Ciamb), Jessyka Santos (doutoranda Ciamb), Elisandra Scapin (doutora em Química), Rachel Fernandes (doutoranda Bionorte e Química do laboratório) e Aline Maciel (doutoranda Bionorte). Foto: Virgínia MagrinMariana Borges (doutoranda Ciamb), Jessyka Santos (doutoranda Ciamb), Elisandra Scapin (doutora em Química), Rachel Fernandes (doutoranda Bionorte e Química do laboratório) e Aline Maciel (doutoranda Bionorte). Foto: Virgínia Magrin

Elisandra: desbravando fronteiras na Química

Nascida no interior do Rio Grande do Sul, em uma cidade com cerca de três mil habitantes, chamada Pinhal Grande, de uma família de pequenos agricultores, Elisandra Scapin, sempre nutriu o sonho de tornar-se professora universitária, para dedicar-se à pesquisa científica. “Mas o que fazer?”, ela se perguntou olhando áreas como a Biologia, Física e Química. Com uma paixão pela Química desde a juventude, ela embarcou em uma jornada de descobertas que a levaria a desafiar as normas e superar as adversidades.
Aos 18 anos ingressou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no curso de Química, onde teve o primeiro choque, como os pais não tinham condições de mantê-la em um apartamento, ela morou na casa do estudante durante toda a graduação, fazendo as três principais refeições do dia no Restaurante Universitário. Elisandra mergulhou de cabeça na pesquisa desde os primeiros anos de sua graduação. Enfrentando o ceticismo e a desconfiança de seus pares masculinos, ela ingressou em um laboratório predominantemente masculino ainda no primeiro período.

Eram 18 homens para ser mais exata e ela a primeira mulher. “O meu orientador na época dizia que mulher não servia para isso, mas que ele ia fazer um teste comigo para ver se ia dar certo”, contou ela. Sua determinação e habilidades logo se destacaram e ela continuou neste mesmo laboratório por anos na graduação, mestrado e doutorado. Sua presença também abriu portas para outras mulheres que vieram e ocuparam cada vez mais espaço.

Sua jornada acadêmica a levou a explorar os complexos campos da síntese orgânica e da química de produtos naturais, culminando em um doutorado que a equipou com o conhecimento e a experiência necessários para enfrentar novos desafios.
Ainda recém-formada, mais uma vez ela resolve enfrentar desafios, deixando para trás sua família e sua cidade de origem para se aventurar na docência e pesquisa no Tocantins, primeiro em universidades particulares da região e em seguida tomando posse no concurso da UFT. Ao chegar à Universidade Federal do Tocantins, Elisandra encontrou-se em um ambiente de pesquisa limitado de uma universidade nova, ainda em construção e sem muitos equipamentos, mas repleto de oportunidades únicas. Ela apenas foi! Adaptou sua linha de pesquisa para explorar os vastos recursos naturais da região amazônica, abraçou o desafio de trabalhar com biomassa e produtos naturais e explorou novas fronteiras na química aplicada.

 Foto: Virgínia Magrin Foto: Virgínia Magrin

Seus esforços incansáveis não passaram despercebidos, rendendo-lhe publicações em revistas bem qualificadas nacional e internacionalmente, entre outras conquistas. Mas o que ela destaca é a conquista do grupo, de ver seus alunos, os trabalhos feitos em conjunto serem premiados, serem reconhecidos, é ver seus “filhos científicos” - como ela chama carinhosamente seus orientados – voarem e alcançarem seus espaços. Mariana Borges é uma dessas alunas. Elisandra é sua professora desde 2010, estiveram juntas na graduação, mestrado e agora no doutorado, inclusive, está de malas prontas para o doutorado sanduíche em Madrid daqui menos de 30 dias incentivada pela professora.

Mariana destaca que é mais fácil para a sua geração e para as que virão, ter alguém que já rompeu algumas barreiras: “O fato da professora Elisandra ter encarado muita coisa já deixou o caminho mais fácil pra gente e essa é a dinâmica de ocupar lugares, quanto mais se ocupa, fica menos difícil para as que vão chegando. Então as meninas da iniciação científica hoje já nem sentem essa disparidade de gênero dentro dos laboratórios”.

E é assim, com uma determinação inabalável, que Elisandra continua a desbravar fronteiras na pesquisa, inspirando uma nova geração de cientistas a seguir seus passos e transformando desafios em oportunidades de crescimento e descoberta. A dica que ela dá para quem quer seguir caminhos semelhantes é simplesmente vá! “Se tem vontade, faça! Nós temos competência para ocupar os lugares, não desista, vá! Não é fácil, mas é muito gratificante”.

Ana Roseli: harmonizando educação e pesquisa musical

Nascida na cidade de Tatuí, no interior de São Paulo, conhecida por abrigar o maior Conservatório de Música da América Latina, Ana Roseli desenvolveu um amor profundo pela música desde pequena, com o contato com colegas e a felicidade de frequentar o conservatório para ver concertos. Sua jornada rumo à educação e pesquisa musical começou quando teve a oportunidade de frequentar o renomado Conservatório, onde teve contato direto com a arte sonora em todas as suas nuances, onde estudou por alguns longos anos.

Em seguida ingressou no curso de Viola de Orquestra na Unicamp, depois transferiu para o curso de regência em instrumentos musicais na mesma instituição. Ana Roseli mergulhou no mundo da pesquisa musical já nos estágios iniciais de sua formação acadêmica. Inicialmente envolvendo-se em programas de Iniciação Científica, logo ela se destacou como uma bolsista CNPQ dedicada, explorando os complexos aspectos da formação de professores de instrumentos musicais.

Com uma paixão pelo ensino e pela música, Ana Roseli viu-se não apenas como uma intérprete, mas também como uma educadora. Ao longo de sua carreira, ela lecionou em diversas instituições de ensino musical, buscando sempre transmitir seu conhecimento e amor pela música para as gerações futuras.

Sua trajetória acadêmica a levou a atravessar fronteiras, culminando em um doutorado na Universidade do Minho, em Portugal. No entanto, foi seu chamado para integrar o corpo docente da Universidade Federal do Tocantins que continuou abrindo fronteiras para pesquisas e ensino na área. Na UFT, por exemplo, Ana Roseli coordena o grupo de pesquisa em Educação Musical e tem inspirado uma nova geração de pesquisadores, com alunos não só da graduação, mas também do ensino médio, especialização, mestrado e doutorado. Seu compromisso com a preservação da cultura musical tradicional do sudeste tocantinense, bem como sua dedicação em formar recursos humanos para a pesquisa, demonstram sua visão abrangente e seu impacto além dos muros da academia, envolvento e apresentando a pesquisa para alunos ainda no ensino médio.

Ela compartilha que suas pesquisas têm se concentrado principalmente na música tradicional e popular das comunidades locais, afinal ela é professora no Câmpus de Arraias: "Arraias é uma região que está profundamente conectada com diversas comunidades tradicionais e quilombolas. Portanto, nossa pesquisa está centrada nessa rica tradição musical. Exploramos não apenas para embasar projetos de intervenção musical em escolas urbanas e rurais, mas também como parte do meu mais recente trabalho de Produtividade em Pesquisa, iniciado em 2021, que se dedica à preservação dos sons e músicas do sudeste tocantinense."

Ela continua: "Nosso objetivo é criar um repositório digital dessas músicas, não apenas das comunidades quilombolas, mas também das cidades circundantes ao nosso campus, que são verdadeiros tesouros da cultura popular”.

Com inúmeras publicações, projetos e trabalhos, Ana Roseli faz parte de um seleto grupo de alto nível de Pesquisadores Produtividade (CNPq) em Música. Para se ter uma ideia, em todo país há apenas 42 pesquisadores produtividade na área da Música e na região Norte há apenas três. Com certeza, uma figura central na promoção da pesquisa musical e na formação de professores comprometidos com a preservação e inovação na educação musical.

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