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Conheça a história de Seu João, agrônomo aos 59 anos

Por Daniel dos Santos | Revisão: Paulo Aires | Publicado: Quinta, 08 de Julho de 2021, 15h29 | Última atualização em Quinta, 08 de Julho de 2021, 16h45

- João, você passou!
- Mentira!

Foi assim que o agora agrônomo João Mendes Rodrigues reagiu quando soube que foi aprovado na UFT para fazer faculdade de Agronomia aos 53 anos de idade, em 2015.

De origem quilombola, o senhor João saiu de da cidade de João Pinheiro (MG) para estudar em Gurupi (TO). “Procurei usar minha nota por várias cidades de Minas Gerais como Ituiutaba, Unaí e Uberlândia. Mas depois tentei em outros estados, como Roraima e Tocantins, que foi quando deu certo. Arrumei as coisas, fui para Brasília e de lá fui para Gurupi com a passagem comprada por um amigo. Cheguei já no último dia para matrícula”.

Para fazer essa graduação após os 50 anos, precisou convencer os amigos e familiares do quanto queria isso: “É um sonho meu. Falei para todo mundo. Eu vou realizar. Eu vou aprender. Eu consegui numa federal. Não é qualquer coisa”.

João teve dificuldades em se adaptar ao calor do Tocantins e chegou a passar por insolação. “O mais difícil era entrar na faculdade. É um sonho que estava realizando. Então eu não podia desistir. Vi muitos colegas desistirem porque não se adaptaram. Reprovei em algumas matérias. Isso me deixou para baixo porque achava que não ia conseguir. Um semestre a mais parecia que eram dois anos a mais. Mas meus próprios colegas me diziam que era exemplo para eles. Então eu seguia em frente”.

Relação com os colegas

Ele diz que foi muito gratificante conviver com os jovens estudantes.: “Você se torna jovem ao conviver com jovens. Por isso que você não desiste. Muitos deles me deram apoio. Também recebi críticas com discriminação pela minha idade ou minha cor. Mas dei as respostas que achei merecidas. Tudo isso me tornou mais forte”.

Por ser o mais velho da turma, Seu João virou o “paizão” de alguns colegas. “Tiveram pais de colegas que me deram os filhos para que eu tomasse de conta. Acabou que me tornei pai para alguns deles, como Antônio, Bruno e a Patrícia”.

E os professores?

Seu João diz que manteve boa relação com todos os professores e tem contato da maioria deles. “O que faço hoje eu pergunto para tirar dúvidas, mas também quero mostrar que aprendi. Sinto que eles vibram por mim”, afirma. O professor da disciplina de Entomologia, Julcemar Didonet, foi um dos professores que se tornou amigo do Seu João. “Com o jeito mineiro de ser, Seu João cativou todos os colegas e servidores do curso e do Câmpus. Sempre sereno, enfrentou as adversidades com determinação e também diversificou- se em atividades extra-acadêmicas, com especial assiduidade à tradicional pelada do sábado à tarde no Câmpus. Dedicado ao Curso, utilizou o olhar agronômico com maestria. Um exemplo a ser seguido, pessoal e profissionalmente”, explica o professor.

Embora tenha se dado bem com os professores, engana-se quem pensa que ele foi beneficiado. Pelo contrário, ele teve suas dificuldades naturais para quem estava há tanto tempo afastado dos estudos. “O velhinho aqui precisava de um pouquinho de chance e de conversa. A mente já tá meio cansada. A gente acaba fazendo algumas coisas erradas, mas tenta consertar”.

Mas por que Agronomia?

A história de Seu João com a cultura agrícola começa com seu avô, que foi descendente de pessoas escravizadas. Ele teria vindo da Bahia para a região noroeste de Minas, onde se juntou à avó do nosso personagem para iniciar suas lavouras. O pai de Seu João deu continuidade com o plantio de feijão, milho, cana e outros grãos. “Vi muita gente vivendo dos alimentos que produziam. Íamos eu e meu irmão com o carro de boi por 12 km e carregava os alimentos. Fui criando amor. Um sonho enraizado em mim”.

Entre os irmãos, Seu João diz que alguns pararam os estudos na quarta série e outros concluíram o ensino médio. Mas ele é o único com ensino superior. Sua coleção de grau ocorreu no dia 15 de junho deste ano. Acha que para por aí? Seu João já decidiu o próximo passo: “Eu e mais quatro sobrinhos estamos abrindo uma empresa. Trabalhar para os outros é bom. Mas fazer por você é melhor ainda”.

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