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Professor Luiz Gonzaga Motta fala sobre sua pesquisa em narrativas

Por Caroline Falcão | Publicado: Sexta, 08 de Abril de 2016, 20h43 | Última atualização em Terça, 13 de Setembro de 2016, 14h01

Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade de Brasília (UNB), jornalista e estudioso sobre narrativa jornalística, Luiz Gonzaga Figueiredo Motta foi o convidado para marcar a inauguração do Mestrado em Comunicação e Sociedade em aula magna ocorrida na noite desta sexta-feira (8), no Câmpus de Palmas, Universidade Federal do Tocantins (UFT). 

O professor Motta é uma referência em estudos jornalísticos e, atualmente, desenvolve pesquisas em torno das narrativas. O tema de sua palestra na Aula Magna foi sobre Narrativas de Identidades. Na oportunidade, ele deu uma entrevista e falou um pouco sobre o que são essas narrativas. Confira a entrevista abaixo:

-O que são as narrativas jornalísticas?

As narrativas em geral, não só as jornalísticas, voltaram à moda, pois as pessoas se deram conta de que vivemos sobre um manto de histórias. Contamos histórias, e não só as fictícias, mas também aquelas que acreditamos ser verdadeiras, como as de religiões, lendas, crenças e várias outras narrativas. Nesse meio tempo houve uma redescoberta da narrativa jornalística que, em princípio, não existiria porque o jornalista não conta histórias, e sim, ele escreve os acontecimentos. Mas, se pensarmos na seriedade desses acontecimentos, teremos, por exemplo, as matérias políticas sobre o processo do impeachment, narradas, sucessivamente, por relatos parciais que se constituem em uma narrativa política. Como também temos outros fatos, como os crimes que, às vezes, fica muito tempo na mídia, ou pode ficar só um dia, mas vários crimes semelhantes se constituem numa narrativa sobre um determinado tipo de crime, como, por exemplo, o estupro e assim por diante. Portanto, essas sequências que se formam na nossa mente e na nossa interpretação é que vão constituindo aquilo que chamamos de narrativas jornalísticas.

-Como estes estudos sobre as narrativas se aproximam do jornalismo diário realizado no Brasil?

Há dois tipos de matérias jornalísticas que predominam nas redações, uma são as reportagens que tem por natureza uma maior liberdade na produção e criação, por isso tem uma maior característica do conto e histórias. Já a notícia é mais objetiva, com uma linguagem mais direta e crua, mesmo assim ela tem o fragmento de uma narrativa que pode ser identificada nas histórias de cada dia, ou nas várias histórias que se complementam nos vários fragmentos de significados que vão se constituindo nesse amálgama, nessa síntese que é o conto e a história. Portanto, digamos que há essa introdução da subjetividade na objetividade jornalística. 

-E as narrativas de identidade, o que são?

Toda identidade se constitui narrativamente, mesmo a nossa identidade pessoal, como quando alguém te pergunta: “quem é você”, e você diz: “eu sou fulana, nasci em tal lugar, depois fui para outro lugar para estudar, minha família mora em tal cidade”, etc. Nisso, você vai contando uma pequena narrativa que é a sua identidade. Não somos somente o nosso corpo como ser biológico, fisiológico e físico, e sim, aquilo que criamos ou o que as pessoas narram a nosso respeito. Portanto, todos nós somos uma narrativa. E assim, as coisas se identificam através de narrativas e também os povos, as sociedades e as nações se constituem narrativamente. Recentemente tivemos umas publicações que mostraram que os países são físicos, mas as nações são emocionais, são efetivas. Somo brasileiros e isso nos toca a alma, então é uma coisa subjetiva muito mais do que objetiva. 

No seu livro "Análise Crítica da Narrativa" fala sobre a teoria das narrativas, metodologia de análise e a onipresença das narrativas na mídia contemporânea. O que seria esta onipresença?

Vemos que nas últimas décadas estamos vivendo cada vez mais de maneira teatral, isso não é uma exclusividade da nossa época, o homem sempre representou seus próprios papeis, mas isso se acentuou muito atualmente. Estamos nos transformando cada vez mais em atores da nossa própria representação, porque a vida está se tornando cada vez mais de “segunda mão”, estamos “performatizando” os nosso papeis.  Hoje temos personal trainer, personal style, personal diet, e outras pessoas mais que cuidam de nós e da nossa imagem, porque a vida está se transformando nessa vida da imagem, nesse mundo mais representado. E isso é a vida moderna, que cada vez mais é narrativizada, cada vez mais representada, cada vez mais espetacularizada no sentido da representação que nos vivemos cada vez mais do mundo. Criamos essas máscaras, as usamos, representamos e atuamos dentro delas. 

-Quais seus planos futuros? Pretende lançar outro livro na linha das narrativas?

Pretendo sim, porém, hoje, estou dedicando metade do meu tempo a minha pesquisa sobre as narrativas, mas também grande parte do meu tempo está dedicado à ficção, a literatura. Comecei a escrever contos e também um livro com uma ambição um pouco maior na área da ficção, pois não quero só estudar as narrativas, também quero praticar as narrativas. Já minha pesquisa enfoca a questão de como a nação brasileira está sendo narrada hoje na mídia, porque se de fato as nações são narrativas, temos aquelas histórias de origem que nos identificam, como o Brasil começou, quais eram as etnias, quais compuseram essa nação, quais são os nossos heróis históricos, tudo isso são chamadas narrativas de origem. Mas tem também as narrativas contemporâneas que são justamente aquelas que fazem com que esse coletivo de pessoas chamadas de brasileiros se identifiquem. E essas narrativas, hoje, quem as realiza é a mídia que nos conta as histórias da contemporaneidade. Histórias simultâneas do que vivemos. Portanto, meu projeto pretende ir por essa linha de investigação, examinar essas simultaneidades que nos ligam em temas e assuntos que nos fazem ser brasileiros afetivos e, não, somente pelo fato de ter nascido aqui. Sou brasileiro quando me identifico com outros seres que dividem e compartem comigo esse sentimento de brasilidade. E aí que eu quero ver como a mídia comporta hoje do ponto de vista subjetivo e afetivo da brasilidade. 

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