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Mulheres da UFT contam como conquistaram seus espaços

Por Virgínia Magrin | Revisão: Paulo Aires | Publicado: Sexta, 06 de Março de 2020, 09h50 | Última atualização em Sexta, 06 de Março de 2020, 18h13

Ao longo dos séculos as mulheres refizeram as concepções estabelecidas para elas social, cultural e economicamente. No passado eram educadas apenas para desempenhar os papéis de esposa, dona de casa e mãe, agora essa mulher tem um perfil múltiplo, conquistou novos espaços e assumiu novas funções. Mas os desafios ainda existem e diariamente é preciso romper com as barreiras de gênero impostas pelo mercado de trabalho e sociedade.

No mês em que é lembrado o Dia Internacional da Mulher vamos contar os desafios enfrentados por duas servidoras da instituição, em ambientes distintos: a professora Adriana Malvázio e a Engenheira Mônica Regina Santos.

Alcançando espaços

Foto: Daniel dos Santos

A engenheira civil, Mônica Regina Santos, conta que desde a época em que estudava o curso técnico em Eletrotécnica já enfrentava os desafios de uma turma de maioria masculina. O mesmo aconteceu quando foi cursar a graduação em Engenharia Civil, período em que apenas 25% dos alunos eram mulheres.

Passada a fase dos estudos, Mônica saiu de sua terra natal – Aracaju – para buscar novas oportunidades no Estado do Tocantins. Chegou à UFT em 2006, como assistente administrativo, no Câmpus de Miracema. Em 2009, mudou-se para Palmas, concursada como Engenheira Civil na instituição. “Tive dificuldades no início, mas hoje me sinto tocantinense e não me arrependo de deixar minha terra natal”, afirma ela.

Há dois anos Mônica é coordenadora de Infraestrutura do Câmpus de Palmas, onde está a frente de outros quatro engenheiros homens e equipes como as de manutenção, vigilância, limpeza, apoio técnico e operacional, de maioria masculina. Ela conta que no início ficou relutante com o convite, que o primeiro ano foi bem difícil, mas agora estão consolidados. “Já escutei de tudo, acredito que ainda existe preconceito e falta de igualdade de mulheres a frente de cargos, mas eu não me intimido. Na minha família fomos criadas para trabalhar e sempre defender os direitos iguais”, destaca a engenheira.

Mônica menciona que sentiu uma resistência no início, mas que aos poucos foi se adaptando, tomando o seu espaço e aprendendo a conviver com os diferentes: “Na minha profissão tive que aprender um pouco mais a me impor, pois na minha área são muitos homens e a gente lida com pessoas de vários níveis durante o trabalho e para isso me tornei forte e resistente. Não nasci assim, mas tive que trabalhar isso em mim. Não tenho mais receio de estar com eles só, de comandar o grupo, mas no início eu tinha. Antes me sentia acuada, tinha medo de chamar a atenção, mas hoje já faço tudo naturalmente. É meu jeito de expressar”.

E o conselho que ela dá é para não se intimidar. “Independente de sermos homens ou mulheres, temos que lutar. Há preconceito de falas masculinas, mas não dá para absorver isso. Meu trabalho exige que eu tenha que estar o tempo todo na ativa. Eu aprendo a lidar com os desafios todos os dias e se reinventar diariamente para não cair na mesmice e para não me sentir acuada. Me sinto bem, me sinto livre aqui e capaz de enfrentar o dia a dia”, enfatiza Mônica.

Desbravando o campo

Quem ouve a voz mansa, com jeito delicado e calmo, não imagina a professora Adriana Malvázio, em campo, capturando jacarés. Sua história é em um cenário bem diferente do da Mônica, mas também foi necessário desbravar ambientes de trabalho e pesquisa predominantemente masculinos. A bióloga por formação cresceu em São Paulo, mas devido sua área de atuação sempre teve contato com a fauna e a flora em expedições de estudo. Ela também fez seu mestrado no Museu de Zoologia da USP, trabalhando com quelônios, mas no contexto laboratorial, com animais mortos.

Foi no doutorado, também na área de Zoologia na USP, que ela começou a fazer experimentos fora do laboratório, em cativeiros e áreas experimentais, descobrindo seu amor por trabalhar com animais vivos. “Na época pensei, se eu tivesse a possibilidade de trabalhar com esses animais na natureza e também com os jacarés, eu poderia exercer minha profissão em um lugar onde eu tivesse essa oportunidade”, e como ela mesma disse: é preciso tomar cuidado com o que desejamos.

Após o desejo, surgiu a oportunidade de trabalhar na então Unitins, em Araguaína. “Estavam precisando de professores. Era 1997, eu já tinha feito as disciplinas do doutorado e estava na pesquisa. Conversei com minhas orientadoras e elas acharam a experiência excelente, já que eu poderia acrescentar em meu trabalho a ocorrência das tartarugas em áreas naturais”, destaca Adriana.

A professora conta que todas as vezes que ia ao rio Javaé realizar sua pesquisa com quelônios, ficava observando os jacarés e pensava que um dia iria trabalhar com eles. E tudo caminhou para que isso acontecesse: ela se inscreveu no primeiro concurso da criação da UFT, em 2002, e em 2003 estava no grupo de primeiros professores concursados da instituição. Ainda ficou em Araguaína por mais um ano e em 2004 veio para Palmas para contribuir na Diretoria de Pesquisa, no curso de Engenharia Ambiental e no Programa de Mestrado em Ciências do Ambiente, que ela ajudou a criar.

Neste período também apareceram alunos interessados em trabalhar com os crocodilianos – os jacarés. Neste cenário tentaram a primeira captura. “Improvisamos um cambão – instrumento de captura de jacarés – com cano de pvc e corda e pegamos um menorzinho para ver se daríamos conta. Sabíamos os detalhes de segurança na teoria, mas na prática, em ambiente natural não. E nosso teste deu certo”, conta a professora, que desde então não parou mais suas pesquisas com jacarés e tartarugas, inclusive as da Amazônia que chegam a pesar 40 quilos.

Adriana menciona que poucas alunas mulheres querem trabalhar com jacarés. A maioria é de homens: “O trabalho de campo tem um desgaste físico maior, enfrentamos calor, mosquitos. Às vezes, a gente se machuca. E quando você vai trabalhar com jacarés e mesmo quelônios de porte grande, a gente sente que as pessoas olham com desconfiança, como se você não fosse capaz, mas o que sempre fiz é continuar. A gente responde fazendo o trabalho da gente”, garante ela.

Se existe preconceito com mulheres no trabalho de campo, ela afirma que sim. Que isso é nítido quando vão formar equipes de expedições de alunos para ficar uma semana acampado. “Já ouvi muito dos rapazes que não querem colocar muitas meninas no grupo, como se eles fossem ter mais trabalho. E isso não é uma realidade. Equipes mistas sempre respondem melhor. O grupo feminino que vai ao campo é mais detalhista nas medições, observações de parasitas e defeitos”, constata Adriana.

A professora deixa um recado para as mulheres que desejam, como ela, trabalhar com pesquisas de campo de animais de grande porte na natureza: “Você acha aquilo importante para você? Quer superar isso? Faça! Tem vários cursos de formação que vão te dar técnicas de captura de um jacaré. É mais questão de técnica, que de força. Se a pessoa tiver essa vontade, achar que o trabalho é importante, ela supera tranquilamente, não é algo que seja difícil. A gente consegue!”.

 

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