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Dia do Orgulho LGBTI+: visibilidade e livre expressão também na Universidade

Por Daniel dos Santos | Publicado: Sexta, 28 de Junho de 2019, 12h19 | Última atualização em Segunda, 01 de Julho de 2019, 10h09

Nesta sexta-feira, 28 de junho, comemora-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e pessoas Intersex). A data é comemorada a partir da revolta de Stonewall Inn, em 1969, na cidade de Nova Iorque. Na época, batidas policiais arbitrárias em locais frequentados pela comunidade LGBTI eram corriqueiras. Quando um desses procedimentos ocorreu no bar Stonewall Inn, aconteceu uma revolta que durou alguns dias. O movimento completa 50 anos em 2019. É considerado um marco político dos direitos civis, de impacto internacional.

Mesmo sem uma pesquisa que possa detalhar os números, é fácil notar que há presença de representantes da comunidade LGBTI+ nos sete câmpus da Universidade Federal do Tocantins (UFT), sem distinção de área de conhecimento e em todos os segmentos: estudantes, professores, técnico-administrativos e terceirizados.

Um dos avanços da Universidade em defesa dos direitos do público LGBTI+ é a regulamentação do uso do nome social por travestis e transexuais nos registros acadêmicos da instituição desde 2015. Egressa de História é a primeira a receber diploma com nome social

Para celebrar a data, convidamos quatro estudantes e um servidor técnico-administrativo para nos contar o que é ser quem é e quais os seus motivos para se orgulhar.

Lésbica

Jailma Ribeiro Marinho, 25 anos, estudante de Pedagogia no Câmpus de Tocantinópolis.

“Bem, se você estiver perguntado o que é literalmente ser lésbica, a resposta é: uma mulher que se relaciona exclusivamente de forma afetiva e/ou sexual com outras mulheres. E sobre os motivos de eu me orgulhar em ser lésbica: a verdade é que só recentemente eu venho pensando sobre isso.

Quando eu era mais nova, o único sentimento que tinha em relação à minha sexualidade era meio que um remorso, pois desde cedo somos condicionadas como mulheres a ocupar papéis específicos na sociedade; e amar outra mulher não é um deles. Atualmente, eu me sinto orgulhosa por ter coragem hoje de que, se alguém me perguntar se sou lésbica, eu respondo sem vergonha nenhuma que sim. Pois lutei muito, internamente falando, para me aceitar e me amar como eu sou.

E quando a gente chega à conclusão de que não há motivo nenhum,

é quando o sentimento de orgulho começa”.

Gay

Ismael Barreto Neves Júnior, 30 anos, estudante de Educação Física no Câmpus de Miracema e Presidente do Diretório Alteridade.

“Me orgulho por estar vivo, por ocupar um lugar em uma Universidade Federal e por lutar por meus direitos. Esse orgulho advém de lutas. Tenho consciência que para eu estar aqui hoje, muitos outros LGBTI+ vieram antes de mim e muitos se sacrificaram. Levantar a bandeira LGBT também é defender a memória dessas pessoas!”.

Bissexual

Luiza Santiago, 19 anos, estudante de Agronomia no Câmpus de Gurupi.

“Eu nunca me questionei realmente se eu era bissexual. Quando era mais nova não entendia porque as pessoas tinham essa diferença entre beijar garotos ou beijar garotas. Para mim tudo sempre foi muito normal. Quando eu cresci, e vi que achavam que era mais indecisão que liberdade, foi que entendi o problema que as pessoas têm para aceitar o amor pleno, o amor que não olha para fora, olha para dentro, acolhe todas as qualidades do outro sem rótulos ou demarcações de áreas a serem exploradas.

Aos 19 anos, aprendi muita coisa, sei que vou aprender bem mais, mas ainda não me vejo como uma bissexual, me vejo como alguém que escolheu o amor independentemente do sexo, alguém que aprecia o ser humano em sua forma pura, cheia de vontades e formas de amar o outro. Queria que as pessoas também não vissem essa diferença, entre um beijo de menina e um beijo de menino. Acho que desse jeito não existiria uma de coisa ruim que separa a gente hoje!”.

Transexual

Daniele Alves Dorneles, 21 anos e estudante de licenciatura em Teatro no Câmpus de Palmas

“Ser mulher transexual me faz pensar sempre em renovação, em mudanças. Mudamos e nos renovamos com o passar dos dias, das horas, dos anos. Somos seres mutáveis e cheios de amor. Como também não posso esquecer das tristezas que é ser uma mulher transexual, dos abandonos, da falta de afeto, da falta de apoio, da falta de amigos e diversos outros pontos. Nós nos descobrimos e florimos e permitimos que a gente passe com o decorrer da vida a viver sozinhas, a vivermos com graça e leveza mesmo diante de todo medo, todas as violências e formas de opressão.

O que faz me orgulhar por ser uma mulher transexual é perceber que estou na contramão do mundo, que mesmo sendo posta à marginalidade eu tenho e consigo forças para existir e resistir. Transexualidade me faz ter força para tentar todo os dias conquistar algo novo, ela me faz buscar o melhor de mim”.

Queer

Fúcsia, 26 anos, servidor técnico-administrativo no Câmpus de Palmas

"Ser uma pessoa queer é se orgulhar de ser aquilo que a sociedade não quer que você seja. Aquilo que durante a sua vida inteira você é lembrado por ser indesejado. Queer é uma palavra antes usada de forma pejorativa na língua inglesa. Então todas as nossas características são associadas a coisas negativas. O que gente tem feito é positivado os termos atribuídos a nós.

Eu me orgulho de ser o estranho, o esquisito. Coisas que eu ouvi a vida toda. Sempre soube que eu não era um menino convencional. Sou uma pessoa não binária. Em toda a minha vida, eu nunca consegui me ver como um menino. E nem como uma mulher. Quando eu descobri esse termo não binário, me senti contemplado instantaneamente. Uma pessoa queer abomina qualquer tentativa de encaixe em uma sociedade que é extremamente castradora para ele. O queer não sente necessidade de atender às expectativas pelo cumprimento de um papel social. Pelo contrário, o queer sente prazer em hackear esses papéis".

Intersex

Para esta matéria, não identificamos personagens que seriam definidas como intersexual e que pertençam à nossa comunidade acadêmica. Mas a fim de trazer visibilidade também para este perfil, publicamos aqui o trecho de uma reportagem publicada no jornal Nexo  sobre o assunto:

"Há dezenas de particularidades que fazem com que pessoas desenvolvam características reprodutivas ou sexuais que não parecem se encaixar nas definições típicas de masculino ou feminino. Isso inclui, por exemplo, o formato do sexo, a distribuição da gordura no corpo, e a disposição dos órgãos reprodutivos internos.

O termo 'hermafroditismo' já foi usado para definir a ocorrência desses tipos de corpos em seres humanos, mas vem sendo rebatido nos campos médico e social.

Em geral, a anatomia intersexual tem causas genéticas. Há casos em que ela só se manifesta a partir da puberdade, ou em que é mais dificilmente perceptível - por exemplo, pessoas que têm características sexuais externas femininas, mas cuja carga genética é masculina.

A definição de quais casos se encaixam na intersexualidade ainda não está solidificada. Segundo uma nota da ONU sobre o tema, entre 0,05% e 1,7% da população humana é intersexual. Se a projeção mais elevada for adotada, a proporção é similar àquela de pessoas com os cabelos ruivos".

Aprendizado também para a instituição

A maioria dos depoimentos desta matéria têm em comum questões como reconhecimento de si, auto-aceitação e a luta pelo direito de ser quem é. Assim como é para a própria comunidade LGBTI+, a discussão sobre esse tema também é um grande aprendizado para a Universidade, com erros e acertos, mas sempre em busca de compreender toda essa diversidade entre as pessoas.

Neste mês de junho, a própria UFT cometeu um erro na tentativa de homenagear a comunidade LGBTI+. Foram confeccionadas faixas institucionais para serem exibidas nos sete câmpus em referência a esta data. Porém, nas faixas a referência era ao "Dia do Orgulho Gay", expressão que não é utilizada há alguns anos por não abarcar toda a representatividade que traz, por exemplo, a sigla LGBTI+. Reconhecemos o erro e reproduzimos abaixo a íntegra da nota da instituição sobre isso.

Nota oficial

A Universidade Federal do Tocantins (UFT), por meio da Superintendência de Comunicação, reconhece que errou na produção das faixas confeccionadas para serem exibidas durante todo o mês de junho nos sete câmpus.´

Com boas intenções, o nosso objetivo foi o de destacar a data do dia 28 de junho, tida internacionalmente como o Dia do Orgulho LGBTI+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersex) e desta forma valorizar esta comunidade, que integra significativamente a nossa comunidade acadêmica.

No entanto, reconhecemos que nos equivocamos ao utilizar a terminologia “gay” ao invés de “LGBT” ou até mesmo a terminologia amplamente adotada mais recentemente “LGBTI+”.

O que foi feito com o intuito de inclusão e reconhecimento da representatividade de toda uma comunidade diversificada, ocasionou de forma indesejável na exclusão de diversos segmentos que integram a comunidade a ser homenageada.

Pedimos desculpas às pessoas que se sentiram ofendidas, especialmente àquelas que integram a comunidade LGBTI+, assim como aos nossos próprios pesquisadores das áreas de gênero e sexualidade.

A respeito da solução, devido ao bloqueio orçamentário imposto pelo Ministério da Educação, não temos à disposição recursos para serem empenhados na confecção de uma nova faixa junto aos nossos prestadores de serviços.

Porém, a solução que vamos sugerir junto aos diretores dos câmpus é que sigamos o exemplo adotado espontaneamente por acadêmicos do Câmpus de Miracema, na qual a faixa que destaca as palavras “Orgulho Gay” foi substituída pela faixa que confeccionamos no ano passado com os dizeres “Orgulho LGBT”.

Por fim, agradecemos as críticas, com a certeza de que foram feitas com justiça e com o desejo de nos tornar uma universidade melhor. E mais do que nunca, seguimos contando com o apoio da nossa comunidade acadêmica em toda a sua pluralidade.

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